sábado, 13 de outubro de 2012

Festas de Descasamentos



Festa de Descasamento

É uma novidade que está se espalhando, vejo com bons olhos e lembro da filosofia budista.

No último filme do grande cineasta japonês, já falecido, Akira Kurosawa, há uma festa durante um sepultamento, as pessoas pulando, dançando, alegres e contentes.

Lembro também que a linhagem PL – Instituição Religiosa Perfeita Liberdade, todo ano, em sua festa máxima, no dia 1º de agosto, reverenciam a morte do fundador com queima de fogos e depois, tem os comes e bebes. O fundador era um monge budista japonês da linhagem Zen Obáku.

Em artigo nosso, publicado em outro blog falamos que um dos fatos que caracteriza o século 21, é a desconstrução de várias coisas e, pelo visto, chegou a vez das relações afetivas que estão se desconstruindo há bastante tempo.

Em primeiro lugar, o budismo afirma que o verdadeiro amor é desapego, é amor incondicional, é amor que não pede nada em troca, é um amor doar, amor doar-se.

É preciso celebrarmos as perdas.

No primeiro capítulo do livro O Dhammapada, atribuído ao Buda, ele diz que não devemos ficar choramingando pela vida: ele me fez isso, ela me tirou aquilo... na verdade isso é uma atitude que os Neuróticos Anônimos estudam muito bem, ficar reclamando da existência.

Essa carência cósmica que todos temos, um é carente de uma coisa, outro é carente de outra coisa, então está na hora do Festinvita, neologismo criado pelo escritor gaúcho Lauro Trevisan quando afirma que a vida é uma festa. E para os que seguem a Bíblia há um versículo famoso: “Em tudo dai graças”.

Ora, então comemoremos os descasamentos, desnamoros, desficantes, desnoivados e outros des... com muita alegria no coração.

O Ocidente tem dificuldade com as perdas, só pensa em ganhar, é uma postura infantil. Ganhos e perdas fazem parte da vida, então viva as vitórias, viva as derrotas. Isso é ser Zen.

Às vezes é até melhor perder. Por exemplo, os políticos se agridem na época das eleições, investem tudo em suas eleições e depois, ao longo de seus mandatos deixam muito a desejar, pois tudo nesse mundo é falho, incompleto, então é melhor compreender a importância da perda. Perda também é ganho, derrota também é vitória. É uma outra forma de ver a vida.

No caso dos descasamentos, quantos e tristes casos de cônjuges que se matam, se odeiam, ficam doentes, destroem suas famílias, porque perderam, se sentem arruinados e tal. Fizeram um sonho de seus projetos que desabaram, ora... fazendo-se uma festa de descasamento as energias negativas envolvidas na questão serão transmutadas. Teremos então desfamílias.

E em vez de se falar em ex-marido, ex-mulher que sempre tem o ranço, a energia de ex, de perda, de decepção, de frustração, celebrando estes sentimentos as pessoas envolvidas vão transmutarem-se.

No Ocidente todo mundo quer controle, segurança, mas existe um livro ótimo que recomendo do pastor anglicano inglês Allan Watts, depois ele se interessou muito pelo Zen-Budismo e escreveu um texto maravilhoso chamado “A Sabedoria da Insegurança”, publicado na década de 1970 pela editora Record.

A eternidade é um constante aprimorar-se, evoluir-se, não é nada pronto, acabado, bonitinho. Também tem a beleza do lado feio... e aqui repito o versículo: “Em tudo dai graças”. Ora, é tudo mesmo, dar graças na alegria e dar graças na tristeza. O Zen-Budismo tem um adágio parecido: “Estou aprendendo a ficar contente com tudo”... com as perdas, com as derrotas, com as insatisfações. Não é neurose, ao contrário é Sabedoria.

Portanto, daqui para frente, teremos as cerimônias, festas e afins de descasamentos. Até porque, em termos energéticos é importante romper os liames, as energias que estavam ligadas, coligadas, transligadas e outras mais.

Penso que, com este olhar maduro, teremos menos machismos, menos crimes passionais.

Claro, vai haver gente pedindo a moça, desde o início, em descasamento, e vice-versa, desnamoro, destransa, desmorar juntos e tal. O clérigo ou juiz pergunta: “Fulano(a) aceita Sicrana(o) como sua desesposa, desmulher ou desmarido, deshomem?” E a pessoa responde: “Dessim”.

Vejam bem, não é “sim”, mas “des-sim”. E isso é profundamente Zen. Há estudos informando sobre a questão do sim e do não, des-não na Filosofia Zen-Budista. Teremos despais, desmães, desmundo, desvida etc. Inclusive o Grande Dicionário Des  da Língua Portuguesa. É só colocar antes o sentimento correspondente.

No âmbito político, que tal despolíticos, desparlamentares, desministros, despresidentes da desrepública e outros dês...

É a desvitória da Desfilosofia.