Festa de Descasamento
É uma novidade que
está se espalhando, vejo com bons olhos e lembro da filosofia budista.
No último filme do
grande cineasta japonês, já falecido, Akira Kurosawa, há uma festa durante um
sepultamento, as pessoas pulando, dançando, alegres e contentes.
Lembro também que a
linhagem PL – Instituição Religiosa Perfeita Liberdade, todo ano, em sua festa
máxima, no dia 1º de agosto, reverenciam a morte do fundador com queima de
fogos e depois, tem os comes e bebes. O fundador era um monge budista japonês
da linhagem Zen Obáku.
Em artigo nosso,
publicado em outro blog falamos que um dos fatos que caracteriza o século 21, é
a desconstrução de várias coisas e, pelo visto, chegou a vez das relações
afetivas que estão se desconstruindo há bastante tempo.
Em primeiro lugar, o
budismo afirma que o verdadeiro amor é desapego, é amor incondicional, é amor
que não pede nada em troca, é um amor doar, amor doar-se.
É preciso celebrarmos
as perdas.
No primeiro capítulo
do livro O Dhammapada, atribuído ao Buda, ele diz que não devemos ficar
choramingando pela vida: ele me fez isso, ela me tirou aquilo... na verdade
isso é uma atitude que os Neuróticos Anônimos estudam muito bem, ficar
reclamando da existência.
Essa carência cósmica
que todos temos, um é carente de uma coisa, outro é carente de outra coisa, então
está na hora do Festinvita, neologismo criado pelo escritor gaúcho Lauro
Trevisan quando afirma que a vida é uma festa. E para os que seguem a Bíblia há
um versículo famoso: “Em tudo dai graças”.
Ora, então comemoremos
os descasamentos, desnamoros, desficantes, desnoivados e outros des... com
muita alegria no coração.
O Ocidente tem
dificuldade com as perdas, só pensa em ganhar, é uma postura infantil. Ganhos e
perdas fazem parte da vida, então viva as vitórias, viva as derrotas. Isso é
ser Zen.
Às vezes é até melhor
perder. Por exemplo, os políticos se agridem na época das eleições, investem
tudo em suas eleições e depois, ao longo de seus mandatos deixam muito a
desejar, pois tudo nesse mundo é falho, incompleto, então é melhor compreender
a importância da perda. Perda também é ganho, derrota também é vitória. É uma
outra forma de ver a vida.
No caso dos
descasamentos, quantos e tristes casos de cônjuges que se matam, se odeiam,
ficam doentes, destroem suas famílias, porque perderam, se sentem arruinados e
tal. Fizeram um sonho de seus projetos que desabaram, ora... fazendo-se uma
festa de descasamento as energias negativas envolvidas na questão serão
transmutadas. Teremos então desfamílias.
E em vez de se falar
em ex-marido, ex-mulher que sempre tem o ranço, a energia de ex, de perda, de
decepção, de frustração, celebrando estes sentimentos as pessoas envolvidas vão
transmutarem-se.
No Ocidente todo mundo
quer controle, segurança, mas existe um livro ótimo que recomendo do pastor
anglicano inglês Allan Watts, depois ele se interessou muito pelo Zen-Budismo e
escreveu um texto maravilhoso chamado “A Sabedoria da Insegurança”, publicado
na década de 1970 pela editora Record.
A eternidade é um
constante aprimorar-se, evoluir-se, não é nada pronto, acabado, bonitinho.
Também tem a beleza do lado feio... e aqui repito o versículo: “Em tudo dai
graças”. Ora, é tudo mesmo, dar graças na alegria e dar graças na tristeza. O
Zen-Budismo tem um adágio parecido: “Estou aprendendo a ficar contente com
tudo”... com as perdas, com as derrotas, com as insatisfações. Não é neurose, ao
contrário é Sabedoria.
Portanto, daqui para
frente, teremos as cerimônias, festas e afins de descasamentos. Até porque, em
termos energéticos é importante romper os liames, as energias que estavam
ligadas, coligadas, transligadas e outras mais.
Penso que, com este
olhar maduro, teremos menos machismos, menos crimes passionais.
Claro, vai haver gente
pedindo a moça, desde o início, em descasamento, e vice-versa, desnamoro,
destransa, desmorar juntos e tal. O clérigo ou juiz pergunta: “Fulano(a) aceita
Sicrana(o) como sua desesposa, desmulher ou desmarido, deshomem?” E a pessoa
responde: “Dessim”.
Vejam bem, não é
“sim”, mas “des-sim”. E isso é profundamente Zen. Há estudos informando sobre a
questão do sim e do não, des-não na Filosofia Zen-Budista. Teremos despais,
desmães, desmundo, desvida etc. Inclusive o Grande Dicionário Des da Língua Portuguesa. É só colocar antes o
sentimento correspondente.
No âmbito político,
que tal despolíticos, desparlamentares, desministros, despresidentes da
desrepública e outros dês...
É a desvitória da Desfilosofia.
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